[Resenha] Proibido - Tabitha Suzuma


Título: Proibido
Autor(a): Tabitha Suzuma
Editora: Editora Valentina
Nº de páginas: 304
Onde comprar: Submarino | Saraiva | Americanas
Nota:
Ela é doce, sensível e extremamente sofrida: tem dezesseis anos, mas a maturidade de uma mulher marcada pelas provações e privações da pobreza, o pulso forte e a têmpera de quem cria os irmãos menores como filhos há anos, e só uma pessoa conhece a mágoa e a abnegação que se escondem por trás de seus tristes olhos azuis.
Ele é brilhante, generoso e altamente responsável: tem dezessete anos, mas a fibra e o senso de dever de um pai de família, lutando contra tudo e contra todos para mantê-la unida, e só uma pessoa conhece a grandeza e a força de caráter que se escondem por trás daqueles intensos olhos verdes.
Eles são irmão e irmã.
Com extrema sutileza psicológica e sensibilidade poética, cenas de inesquecível beleza visual e diálogos de porte dramatúrgico, Suzuma tece uma tapeçaria visceralmente humana, fazendo pouco a pouco aflorar dos fios simples do quotidiano um assombroso mito eterno em toda a sua riqueza, mistério e profundidade.
"Você pode fechar os olhos para as coisas que não quer ver, mas não pode fechar o coração para as coisas que não quer sentir."


Se eu conhecesse ou me falassem da história desse livro antes de eu mergulhar nas páginas por conta própria e ir conhecendo-a aos poucos, juro pra vocês, eu não sei se leria. Juro que iria julgar e achar um absurdo alguém pelo menos cogitar a hipótese de uma coisa dessas. Mas, felizmente isso não aconteceu.


Tabitha Suzuma criou uma história incrível, cheia de uma profundidade, de uma intensidade e única de tantas maneiras.

Na história somos apresentados à Maya e Lochan (ou Lochie), eles são os mais velhos de 5 irmãos, ele com seus 17 anos e ela com 16, sendo os outros, dois meninos, Kit de 13, Tiffin de 8 e a princesinha da casa, Willa, de 5 anos, e claro, uma mãe de 40 totalmente relapsa, que diferente de ser jovial, ela simplesmente acha que ainda é uma adolescente, e se comporta como tal, usando roupas coladas e decotadas, vestidos curtos que nem a própria filha de 16 usaria. Bebendo de cair, usando todo tempo livre para beber mais, sair e ficar com seu novo namorado Dave.

Deixando para Maya e Lochie a responsabilidade de cuidar dos irmãos menores. Responsabilidades como lavar, passar, cozinhar, colocar e pegar na escola, socorrer quando estão passando mal, colocar pra dormir, dar banho, contar histórias, supervisionar o dever de casa e lhe dar com a crise de pré-adolescente de Kit. Ah, e claro... cuidar para que o Serviço Social não descubra que 5 crianças vivem praticamente sozinhas numa casa, onde a mãe só aparece de visita, muito raramente em algum fim de semana e fica por apenas algumas horas, quando muito, passa uma noite em casa. O medo de Lochie de que o Serviço Social descubra e levem todos para adoção, fazendo com que sejam separados é tão grande, que ele toma para si toda a responsabilidade sobre todos, ele assume o papel de Pai, de homem da casa, e Maya o ajuda, assumindo, mesmo sem querer o papel de mãe das crianças.

Obrigados pelas circunstâncias e por uma mulher desleixada e relapsa, ao qual chama de mãe, os dois acabam se tornando Pais dos irmãos e executam esse papel com perfeição - dentro do possível -, as crianças são felizes, eles formam uma família repleta de amor, carinho e pequenas alegrias, mesmo com as dificuldades que passam. Os sustos, os momentos de desespero, onde Lochie só tem a Maya para apoia-lo, e vice versa.

"Às duas da manhã, depois de ligar para ele várias vezes e cair na caixa postal, telefono para mamãe por puro desespero. Ela está em alguma boate - o barulho ao fundo é ensurdecedor: música, gritos, gargalhadas. Como já é de madrugada, sua voz está arrastada, e ela mal presta atenção ao fato de seu filho ter desaparecido." (Pág. 66)

Lochie tem problemas em socializar, ele tem constante crises de pânico, e isso só dificulta ainda mais as coisas pra ele. Enquanto todos o acham o esquisitão, - mesmo com toda sua inteligência - Maya é a única que o apoia, entende e o ama como ele é.

"Eu me sinto como se estivesse numa ladeira escorregadia, e não tivesse escolha senão despencar. Sei tudo e mais alguma coisa sobre ter vergonha de um parente - o número de vezes que desejei que minha mãe agisse como uma mulher adulta em público, já que não fazia isso em particular. É horrível sentir vergonha de alguém que você ama; é uma coisa que te rói por dentro. E se você deixar que te afete, se desistir da luta e se entregar, a vergonha acaba por se transformar em ódio. Não quero que Kit sinta vergonha de mim." (Pág. 35)

Diante da vida que vivem, assumindo uma casa e três crianças, sendo constantemente os companheiros, força e porto seguro um do outro, Maya e Lochie desenvolvem um tipo de amor ainda maior, um amor que vai além - muito além - do fraternal. Um amor proibido e visto pela sociedade como sujo e inaceitável.
Como eu disse no início, eu também pensaria a mesma coisa se não tivesse lido cada uma dessas páginas. Se não tivesse conhecido a fundo a história dos dois, se não tivesse visto como sofreram e como eram doces, dedicados e amorosos.

Eu me senti dividida, e tentava me imaginar no lugar deles, e meu estômago embrulhava, para mim é impossível imaginar esse tipo de sentimento. Mas quem é que diz o que é certo ou errado? Quem cria as leis, paradigmas e preconceitos da  vida? Como julgar depois de conhecer a história deles, é um caso isolado, uma exceção, talvez?! Eu me peguei pensando, no caso deles, e somente pra eles, esse amor é tão justo, tão certo!
Mesmo sendo algo que muito me incomodou durante toda a leitura, no final eu me perguntei: Será que não é mesmo justa toda a forma de amor? Pelo menos se tratando de Maya e Lochie. E no fim, me peguei torcendo loucamente por eles, pra que eles fossem felizes, todos eles. Eles mereciam, precisavam ser felizes, depois de tudo.



O livro, os personagens, toda a teia que Tabitha cria para nos prender, nos angustiar e nos convencer, são incríveis, de uma genialidade, sensibilidade e que mexe de maneira profundo com o nosso psicológico, nos dividindo, nos fazendo se retorcer dentro das ideias pré concebidas aos quais somos criados desde sempre. Ela nos faz sair da zona de conforto e encarar algo que eu jamais pensaria em questionar. Esse livro me deixou de coração partido, destroçado, me deixou com uma profunda tristeza e uma dor no coração que  mesmo hoje - três dias após a leitura - eu ainda sinto essa dor por eles.

"Noto uma corda de pular cor-de-rosa pendurada no corrimão. Uma bala de gelatina da noite passada no carpete. Pequenos sapatos espalhados em volta do cabideiro diante da porta. As sandálias brancas de Willa, es os tê

A capa é linda e retrata de maneira sutil o teor da história. A diagramação é delicada, com o desenho de arame farpado no topo das páginas e nos inícios dos capítulos um coração formado também por esse arame farpado da capa. As páginas são amareladas, e a letra e margens de tamanho excelentes para uma boa leitura. Quanto a revisão, está impecável. Não encontrei erros.

Proibido é um livro incrível! Lindo, angustiante, intenso, complexo, profundo e arrasador!
Leiam, abram a mente e o coração e abracem esses personagens que merecem ser amados!


"Fico observando-a por um longo tempo. Por fim, minha pernas começam a doer e eu deslizo pela parede, sentando no chão, braços cruzados sobre os joelhos. Tenho medo de sair, mesmo que só por um momento, e acontecer mais alguma coisa com ela; tenho medo de sair e a muralha negra do medo voltar. Mas ali, ao seu lado, a vista do seu rosto adormecido me relembra que nada mais importa, que não estou sozinho. É o que Maya quer, é o que eu quero. Não adianta lutar, só serviria para nos magoar mais ainda. O ser humano precisa de um fluxo constante de nutrição, oxigênio e amor. Sem Maya, eu perco todos os três, separados, morreríamos lentamente." (Pág. 150)
Jaqueline Silva
Carioca, mãe, apaixonada pela família e amigos, viciada em Coca-Cola, chocólatra, apaixonada por livros e filmes, estudante de enfermagem e blogueira nas horas vagas.
Amo blogar e tudo o que a literatura me trouxe. Pra mim ler é poder viajar sem sair do lugar.

19 comentários

  1. Oi Jaqueline!
    Esse livro! ♥
    Li no início do ano e foi uma das minhas melhores leituras de 2015 até o momento.
    Fiquei tão envolvida com a história que quando terminou não conseguia parar de chorar, a ressaca literária durou dias, e escrever a resenha foi bem difícil, pois eu vivenciava toda a história novamente.
    Excelente resenhas!
    Beijos.

    Li
    Literalizando Sonhos

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  2. Oláá
    Poxa, sua resenha está fantastica, eu leio várias sobre o livro e cada pessoa tem sua opinião e eu sou louca para ler e formar a minha, espero poder ler em breve e gostar tanto quanto você gostou, parece ser realmente emocionante apesar de polêmico.

    Beijos
    http://realityofbooks.blogspot.com.br/

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  3. Oi,
    Lembro que assim que vi a capa do livro fiquei curiosa pela leitura, li uma resenha que me deixou mais curiosa, mas sei que para ler preciso abrir a mente, logo que me deparei com o casal fiquei com o pé atrás, mas não julguei, pois não conheço a história.
    Enfim, parabéns pela resenha.
    Beijos



    Mari - Stories And Advice

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  4. Olá Jaque!

    Acho que esse livro é aquele divisor, ou amam ou odeiam né? Eu já conheço a história pelas resenhas e por puro preconceito não tenho vontade de ler, não no momento; Quem sabe mais para frente. Gostei muito do seu ponto de vista mais apaixonante pela história!


    Beijinhos,
    www.entrechocolatesemusicas.com

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  5. Achei muito bonita a resenha e acabei de adicionar a lista de livros para ler. Achei sua resenha muito bem escrita, parabéns!

    Até o próximo post,
    www.olivroestanamesablog.blogspot.com.br

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  6. Jaque, eu a princípio nunca leria esse livro, mas você falou tão bem dele... Então eu vou dar uma chance, sim. Vou me sentar na livraria, ler as primeiras páginas e ver o que acho.
    Um abraço,
    www.literasutra.com

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    1. Faz isso, Mo. Você não vai conseguir largar. É uma história incrível!

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  7. Olá!
    Eu já li vários comentários sobre esse livro e na maioria foram ótimos comentários, assim como o seu, mas esse não é um enredo que me chama a atenção. E confesso que esse lance de irmão com irmã me incomoda um pouco, sei lá hahaha
    Então, sinceramente, não tenho vontade de lê-lo. Mas devo comentar: a capa dele é divinaaa!
    Fico feliz que tenha gostado tanto da leitura!
    Beijos!

    www.livrosdajess.com

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    1. Jess, eu pensava exatamente assim, até conhecer a história. Muda tudo depois que você conhece os personagens e a situação deles. Quebra qualquer tipo de paradigma ou preconceito. Uma pena você não ler. Quanto a capa, é maravilhosa mesmo!

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  8. Sua resenha me deixou totalmente dividida, independente do que é certo ou errado eu quero muito ler o livro! Já senti a beleza e a dor que ele carrega, o tipo de livro que pega de jeito!!
    Quero muito ler!! Parabéns pela resenha, ficou incrível!

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    1. Aline, tenho certeza de que você vai amar! Eu de início também fiquei muito dividida, no fim, você está tão destruída por tudo que acontece, que não tem como não se render a essa história incrível! Espero que curta a leitura.
      Beijinhos!!!

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  9. Um pai de família aos dezessete anos? A história me interessou. Gostei da capa, bem forte. Esses livros que carregam amores sofridos geralmente me atraem, e pelo visto esse não será diferente
    Beijos
    Ingrid

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  10. Oi Jaque,
    este livro foi uma leitura que eu aguardava a muito tempo ler, estava naquela "vou ou não" por trazer um romance peculiar e fora dos padrões atuais, mas quando eu li e percebi a profundidade dele... Eu chorei, chorei, chorei tanto que me senti em frangalhos e achei a historia mais verdadeira e linda de amor.
    Sei que pode haver muita recriminação, uns(que li muitas resenhas) acharam muito forte e ate achando um absurdo. Mas quem diz que o amor escolhe? Quem diz que o amor é decifrável?
    Fora que a autora, como você disse, criou uma teia que prende e é impossível saber o que vai acontecer. Alem dos personagens forte que ela criou que marca de certa forma.
    Assim como você disse, uma leitura profunda.
    Parabéns pela resenha!

    Beijokas Ana Zuky
    SA Revista

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  11. Amo livros que nos deixam de coração partido, destroçado então, melhor ainda! rs... Vi algumas resenhas negativas e tinha desanimado, mas agora a sua me animou de novo, se ele é tão incrível assim acabou de voltar para a lista de desejados.

    Beijo!

    Ju
    Entre Palcos e Livros

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  12. Olá,
    Muito boa a sua resenha, mas eu não leria o livro. O tema que ele aborda, não é atrativo para mim.
    Lindo blog
    Beijos

    http://itgeekgirls.wordpress.com

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  13. Oie, tudo bom?
    Logo depois que o livro foi lançado eu não imaginava esse romance na minha cabeça, mas algumas resenhas me fizeram repensar. Várias amigas blogueiras recomendaram a leitura e tenho altas expectativas para conhecer esses irmãos. Acho que a autora acertou em cheio ao criar uma trama que faz você ter dúvidas sobre o que é certo e errado.
    Beijos,
    http://livrosyviagens.blogspot.com.br/

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  14. Quero muito ler esse livro, porque venho opiniões diversas sobre o tema central da história. Tenho uma opinião baseada nas resenhas que leio, mas quero ver se é a mesma de quando eu for ler o livro. Adorei a sua resenha :D

    Beijos, Gabi
    Reino da Loucura

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  15. Oii.
    Só leio elogios sobre esse livro, e todas as resenhas diz que julgariam o livro sem ler. O me deixa super curiosa! Estou louca para ler desde que lançou *-*
    Ele está na minha lista de compras faz um tempinho, acho que está na hora de comprar e ler essa estória com meus próprios olhos né? hahahaha

    Beijos ;*
    Proseando com uma BibliophileFacebookInstagramTwitter

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  16. Oi jaquelinee!
    Sou lok p ler este livroo! todas as resenhas q leio são assim q nem a sua, empolgadas e devastadas c a história, gente q q acontece neste livro?!
    Gosto d histórias q mexem comigo desta forma!!!
    Bjos!!
    Aline Praça
    www.leituravipblog.com

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Obrigada pela sua visita e comentário, volte sempre! =)